Informativo


TRANSFERÊNCIA DE CIDADE PELA EMPRESA DEVE INCLUIR ACORDOS CLAROS COM O FUNCIONÁRIO

13/03/2019

Por: Bianca Zanatta

Lima pela empresa de consultoria de negócios onde trabalhava, no entanto, caiu de amores pelo país. "Sair da zona de conforto e viver uma nova cultura foram fatores decisivos para que eu topasse a mudança. Só procurei antes conversar com pessoas que já viviam lá", conta. Transferências já fazem parte do currículo de Larissa, que morou nove meses em Santa Catarina e seis meses no Ceará, também por conta da empresa.

Muitos profissionais enxergam a transferência para outra cidade ou país como uma oportunidade de aprendizado e crescimento. A experiência pode surgir a convite da empresa, quando o funcionário possui conhecimento estratégico para um projeto ou cargo, ou por iniciativa do próprio profissional, a partir da candidatura a uma vaga fora. E como se dá o processo quando os dois lados finalmente apertam as mãos?

"Existe um pacote que é padrão no mercado", afirma Simone Cleim, VP de Recursos Humanos para a América Latina do Grupo Solvay. "Nas expatriações, é praxe a empresa garantir o visto de trabalho, dar suporte para a declaração de imposto de renda nos dois países e oferecer um subsídio para escola e moradia, além de reforço no idioma para o profissional e a família", exemplifica.

No caso do Solvay, a lista de benefícios inclui um treinamento intercultural em que os hábitos do país de destino são estudados e é promovido um encontro com alguém que já tenha passado pela vivência. Na fase seguinte, há uma visita de reconhecimento do lugar e o cônjuge também recebe suporte da empresa para se recolocar profissionalmente, se tiver interesse. "Para dar certo, é fundamental que a pessoa seja flexível e aberta a realmente viver uma cultura diferente. E para isso o interesse da família é crucial."

O engenheiro civil Fernando Bagnoli, de 64 anos, foi expatriado duas vezes, em momentos bem distintos de carreira. Primeiro partiu com a esposa e os dois filhos para Miami pela Dow Química, onde era gerente de produto. Anos depois, a extinta Quest International o convidou para presidir a área Ásia-Pacífico na China, onde viveu por dois anos e meio, desta vez só com a esposa.

Em Miami, procuraram primeiro uma escola boa para depois escolher o bairro em que iriam morar. "Lá o ensino é público e a escola se define pelo endereço das crianças", recorda. A adaptação da família foi rápida, tanto no idioma quanto na criação de laços com a comunidade. A empresa garantia seguro-saúde, auxílio na moradia e passagens para o Brasil uma vez por ano. Por se tratar de um cargo equivalente ao que já tinha, o salário do executivo era o do mercado nos EUA. "Nem sempre a transferência está ligada a promoção ou aumento salarial. Tem de ser vista como uma experiência de vida. É um enriquecimento muito grande."

"Se a ideia for crescimento profissional, é preciso entender quais competências serão desenvolvidas nesta nova etapa e a que funções elas credenciarão no futuro"

Já na China a vivência foi completamente diferente, a começar pela barreira do idioma. "Não havia convívio social com os chineses, as condições eram mais duras", observa. Por conta do cargo que o executivo ocuparia, os benefícios oferecidos também foram vantajosos: salário com adicional, aluguel pago na íntegra e carro com motorista.

Segundo Felipe Calbucci, country manager do Indeed no Brasil, é importante que o funcionário defina bem seus critérios profissionais e pessoais antes de buscar uma transferência. "Se o foco é qualidade de vida, o ideal é estudar a cidade ou o país escolhido, fazendo inclusive uma visita para conhecer as pessoas, o estilo de vida e tudo o que envolve seu cotidiano", aconselha. "Se a ideia for crescimento profissional, é preciso entender quais competências serão desenvolvidas nesta nova etapa e a que funções elas credenciarão no futuro."

Em termos práticos, ter um contrato bem escrito é um cuidado a se tomar. O engenheiro Luiz Mario Farias, de 40 anos, que vive no Canadá com a esposa e a filha, procurou entender as diferenças de custo de vida e tributação e acordou formalmente todo o auxílio prometido.

Luiz foi escolhido pela Willis Towers Watson para liderar uma área de consultoria em investimentos no país. "Os dois primeiros anos são mais difíceis. Muito tempo é dedicado à montagem da casa, sem falar no aprendizado de coisas básicas do país, como sistema de saúde. Mas é uma expansão dos horizontes em termos culturais, além de termos mais segurança no dia a dia."
Fonte: Estadão

Voltar para listagem