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ESGOTAMENTO PROFISSIONAL DESAFIA EMPRESAS

04/03/2020

Você já teve a sensação de que todas suas energias se consumiram e acabaram durante o expediente de trabalho? Se essa vivência é constante e vem acompanhada de dores musculares e de cabeça, exaustão emocional, física e psicológica e até disfunções sociais, cuidado. Você pode estar sofrendo da Síndrome de Burnout.
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A palavra, traduzida do inglês, significa esgotamento ou combustão total - quando uma chama se consome por completo e depois se apaga. Os dois termos definem, com propriedade, o fenômeno de estresse profissional crônico que não foi gerenciado da forma correta.

"A pessoa que sofre da Síndrome de Burnout não dispõe de recursos físicos, emocionais ou psíquicos, sente ter passado de todos os limites e não encontra saída para enfrentar a situação", explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR (International Stress Management Association). Estudo realizado pela Isma-BR em 2018 revela que esta alteração do estado de saúde acomete 32% dos trabalhadores no Brasil, o equivalente a 33 milhões de pessoas.

O aumento galopante do número de casos em todo o mundo foi um dos motivos para a Organização Mundial da Saúde (OMS) determinar uma Classificação Internacional de Doenças específica para a síndrome. A CID-11 entrará em vigor em 2022, referindo-se especificamente ao contexto profissional, e "não deve ser utilizada para descrever experiências em outros âmbitos da vida", segundo definição da OMS.

No capítulo "Fatores que influenciam o estado de saúde ou o contato com os serviços de saúde", fica definido que "Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É caracterizada por três dimensões: sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e redução da eficácia profissional."

Até que a nova classificação passe a valer, a síndrome está contemplada na CID-10 Z73, que descreve, entre os transtornos, problemas relacionados com a organização do modo de vida, esgotamento, acentuação de traços de personalidade, falta de repouso e de lazer, estresse não classificado em outra parte, habilidades sociais inadequadas, conflito sobre o papel social, limites impostos às atividades por invalidez.

O volume de afastamento de trabalhadores no País com base na CID-10 Z73 reforça o tamanho do problema. A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho apurou que, em 2018, foram concedidos 421 benefícios de auxílio-doença nesta categoria contra 196 em 2017, ou seja, um crescimento de 114,8%. Mas o que desencadeia esse fenômeno? Segundo especialistas, muitas vezes o gatilho está na pressão pelo cumprimento de metas, excesso de tarefas, jornada exagerada e ambiente de trabalho tóxico - com conflitos e diferenças não administrados, relações abusivas, atitudes agressivas e competitividade em demasia, por exemplo.

O resultado não poderia ser outro. Quem sofre da síndrome passa a apresentar características como cinismo e falta de sensibilidade, provocadas pelo esgotamento físico e mental do profissional, o que provoca o distanciamento mental das atividades laborais e redução da eficácia profissional. Não é só o trabalhador que perde neste contexto. As empresas sofrem com a queda da produtividade, e a família e círculos sociais também acabam impactados.

Para enfrentar esses problemas, a OMS prepara diretrizes que auxiliem as empresas a garantir o bem-estar mental no local de trabalho. Entre as recomendações, estão a promoção do empoderamento do colaborador, participação e satisfação, assim como a adoção do conceito de "trabalho decente" da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Na prática, significa prover elementos que incluem emprego justo, respeito pelos direitos humanos, regras laborais, proteção ao meio ambiente, transparência e diálogo social. A OIT também recomenda que os países incluam em suas listas de doenças ocupacionais o estresse e os transtornos mentais, garantindo assim que esses possam ser identificados, quantificados e posteriormente tratados.

Cristine Pires, com agências

Má utilização dos meios digitais pode piorar o quadro de quem sofre da Síndrome de Burnout
O uso desregrado e exagerado dos meios digitais podem agravar o quadro de quem sofre da Síndrome de Burnout, pois pode representar um perigoso sinônimo de pressão emocional. "A tecnologia certamente traz muitos benefícios para o dia a dia, porém, é preciso aprender a utilizá-la de forma estratégica", orienta Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa de assessoria e educação corporativa na área de Neurociência Organizacional.

A especialista explica que diversidade de canais de comunicação disponíveis hoje pode levar a uma sensação de sobrecarga sobre o colaborador, por exemplo quando a pessoa recebe mensagens ou cobranças através de e-mail, mensagens, aplicativos e muitas vezes também através de contato telefônico. "Isso pode gerar dificuldade de alinhamento de prioridades, excesso de cobrança, erros de comunicação, dentre outros problemas", afirma.

Além disso, a praticidade da tecnologia, associada a uma pressão cada vez maior por tempo, também faz com que muitas vezes críticas e feedbacks sejam passados através de mensagens, o que pode gerar sentimentos negativos exagerados por parte de quem recebe a mensagem e, ainda, a percepção de maior distanciamento e frieza por parte dos gestores ou mesmo da empresa.

Nessa mesma linha, a neurocientista esclarece que tecnologia é importante por permitir que tenhamos cada vez mais autonomia, porém, ao mesmo tempo, quando não sabemos organizar as atividades profissionais também pode gerar a sensação de que estamos trabalhando 24h/dia, ou mesmo favorecer culturas que considerem que as pessoas devem estar disponíveis e acessíveis para o trabalho constantemente, uma vez que podem responder e-mails e mensagens facilmente do seu celular. "Isso traz um excesso de carga horária, mesmo quando a pessoa está fora do escritório, o que associado às cobranças e pressão pode piorar ou favorecer um quadro de Burnout.", ressalta.

Para Ana Carolina, o controle do estresse e o exercício saudável da liderança são aspectos fundamentais para ajudar a evitar que tais quadros ocorram, já que uma vez instaurado, o Burnout traz prejuízos importantes para saúde do indivíduo e impacta diretamente a produtividade das equipes. "É saudável que os gestores tenham conhecimento do fenômeno e estejam constantemente atentos aos seus colaboradores como uma forma de prevenção. Ao perceber que algum dos colaboradores pode estar sob grande pressão, sobrecarregado, ou desenvolvendo uma possível frustração associada ao trabalho, deve-se buscar formas de reverter o cenário e assim evitar um desgaste maior, e possível desenvolvimento de Burnout", recomenda.

Nesse contexto, o exercício da empatia pode ser uma forma muito eficiente de leitura dos colaboradores, permitindo uma maior sensibilidade na hora de direcionar suas atividades e dar retorno sobre seu desempenho. "A empatia é uma habilidade fundamental para uma comunicação e liderança mais eficientes e há diferentes formas de exercitá-las. Uma delas seria dar atenção às pessoas. Quando conversar com elas, faça contato visual e ouça atentamente ao que dizem. Exercitar o que chamamos de "escuta ativa", quando ouvimos o que o outro está dizendo, inibindo nosso julgamentos e pensamentos para que de fato seja possível compreender a perspectiva e os sentimentos da pessoa que fala", sugere.

Melhorar a qualidade de vida dos funcionários faz a diferença

Os colaboradores da Brasilprev podem parar suas atividades uma vez por semana para participar das aulas de yoga. A adesão é voluntária, e a Yogist, parceira na iniciativa, trabalha apenas a parte técnica da atividade, sem entrar no cunho espiritual. O yoga corporativo é uma prática diferenciada, aplicada no próprio ambiente de trabalho, que tem como objetivo combater o estresse e os distúrbios laborais.

A metodologia condensa as posturas que fortalecem e alongam todas as partes do corpo que sofrem de estresse e do trabalho em computador. "Também alivia as tensões decorrentes da postura sentada por longos períodos e ensina as técnicas de respiração eficientes para relaxar ou se concentrar", explica Armelle Champetier, diretora da Yogist no Brasil.

O lado positivo, avalia ela, é que muitas empresas têm investido em alternativas para melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores. "As companhias precisam se dar conta sobre a importância de incluir em suas rotinas curtos períodos semanais para a prática de uma atividade que incentiva a mudança de hábitos", destaca Armelle

As ações podem incluir diferentes focos, como oportunizar ajuda psicológica, a possibilidade de fazer home office, oferecer salas de descanso, massagem ou uma atividade física. Ao mesmo tempo, é necessário que os gestores identifiquem possíveis causas do burnout, como excesso de demandas ou cobranças ostensivas. Só assim, afirma, será possível que o estresse, transtorno de ansiedade e a Síndrome de Burnout deixem de ser termos cada vez mais frequentes no ambiente de trabalho.

Confira 10 conselhos para não ser atingido

O filósofo Fabiano de Abreu, especialista em comportamento humano, tem pesquisado sobre o tema e principalmente os seus desdobramentos sociais em conjunto com psicólogos e estudiosos da área, e aponta que é preciso muita cautela, pois não apenas famosos e profissionais muito requisitados estão sujeitos a sofrer um esgotamento total: "Cuido muito para não sofrer desse transtorno e acredito ter chegado próximo de um estado de esgotamento total por vários momentos. É preciso atenção aos sintomas e aos sinais."

Abreu expõe alguns dos desdobramentos que acometem os que sofrem com a Síndrome de Burnout: "Esta síndrome pode acarretar em comorbidade com alguns transtornos psiquiátricos, como a depressão. Os efeitos do burnout podem prejudicar o profissional em três níveis, o individual (físico, mental, profissional e social), profissional (atendimento negligente e lento ao cliente, contato impessoal com colegas de trabalho e/ou pacientes/clientes) e organizacional, gerando conflito com os membros da equipe, rotatividade, levando ao absenteísmo (ausências recorrentes no trabalho)".

É preciso procurar um médico ou um psicólogo para um correto diagnóstico do burnout. No entanto, alguns sintomas são perceptíveis e são um sinal de alerta para procurar ajuda profissional. A exaustão emocional abrange sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição de empatia; sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação; aumento da suscetibilidade para doenças, dor de cabeça, náuseas, tensão muscular, dor lombar ou cervical, distúrbios do sono.

O distanciamento afetivo provoca a sensação de alienação em relação aos outros, sendo a presença destes muitas vezes desagradável e não desejada. Já a baixa realização profissional ou baixa satisfação com o trabalho pode ser descrita como uma sensação de que muito pouco tem sido alcançado e o que é realizado não tem valor".

Como prevenir

1 Faça o que realmente o que lhe agrada. Caso não possa trabalhar somente com o que gosta, então busque o que tem de bom na sua profissão e aprenda a apreciar o que faz, a ver o lado positivo acima do negativo.

2 Se a rotina afeta, então transforme-a de vez em quando. Nem que seja algo simples, como mudar a mesa de posição ou enxergar a vida em novos ângulos para ter uma visão diferente da rotina.

3 Aproveite todos os momentos de folga para pensar em algo totalmente diferente. Principalmente coisas que lhe agradem.

4 Crie metas de lazer. Trabalhe duro durante a semana sabendo que naquela determinada data vai tirar seu dia de folga ou aquelas férias no lugar que gosta ou com pessoas que lhe fazem se sentir bem.

5 Anote tudo em uma agenda para que não fique perdido e tenha facilidade de organizar seus afazeres.

6 Não adianta querer fazer tudo ao mesmo tempo e nada sair direito. Organize suas tarefas com ordem de prioridade.

7 Organize seus horários e, mesmo que não consiga cumprir tudo à risca, pense que isso não é motivo para alarde. Não seja tão radical consigo mesmo.

8 Não protele o que tem que fazer agora. Faça logo e bem-feito, pois, quando acabar, poderá gozar do alívio do dever cumprido.

9 Se prenda de vez em quando a coisas que lhe agradam. Um exemplo pode ser parar e ficar olhando a natureza, mesmo que seja apenas uma árvore no caminho. Ou então um animalzinho de estimação.

10 Esse é o mais importante: controle. Tenha equilíbrio, medite, faça um autorreconhecimento e saiba onde se encontra o seu limite. Busque maneiras de manter sua estabilidade e de não deixar que o excesso de funções lhe deixe doente. Viva a vida melhor maneira possível.
Fonte: Jornal do Comércio

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